Monday, December 9, 2019


Manejo Pré-Hospitalar do Acidente Vascular Encefálico (AVE)
Ana Carolina Azevedo, Gabriel da Silva Barbosa Paiva 

     O acidente vascular encefálico (AVE) é uma síndrome neurológica composta pelo déficit acentuado de aporte sanguíneo, que pode promover disfunção neuronal da região afetada em consequência da diminuição do suprimento de nutrientes, mas principalmente de oxigênio, levando a um quadro de hipóxia ou até mesmo de anóxia. Pode representar uma lesão de caráter irreversível ou formar uma área de penumbra ao redor do local em que se deu o processo isquêmico e que pode ser recuperada mediante rápido tratamento. Apresenta grande prevalência em homens, idosos e tabagistas, além de representar, em escala mundial, uma das principais causas de morte, incapacitação e internação. Pode ser subdividido em duas categorias: AVE isquêmico (compõe 80% dos casos) e AVE hemorrágico (representa os 20% restantes). Diferentemente do AVE isquêmico, que apresenta como principais fatores de risco a fibrilação atrial, a hipertensão arterial sistêmica (HAS), sedentarismo e dislipidemia, o AVE hemorrágico têm na HAS, no trauma, na diátese hemorrágica e na angiopatia amiloide os seus principais fatores que o predispõe.


1- PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

    A detecção e o encaminhamento rápido de um caso de AVE agudo, tanto hemorrágico quanto isquêmico, são indispensáveis para melhor atendimento, tratamento e prognóstico. Diante disso, o Ministério da Saúde estabeleceu o protocolo inicial de atendimento por meio da avaliação do quadro clínico, do teste físico, dos sinais vitais, da conduta e da remoção.


A- Quadro Clínico

    De forma concomitante, tanto para o AVE isquêmico, quanto para o hemorrágico, as manifestações clínicas se dão de forma semelhante:
  • Parestesia e paresia de face e membros superior e inferior unilateral;
  • Confusão mental;
  • Alterações da fala e da linguagem (disfasia, afasia, disartria);
  • Alteração do equilíbrio, vertigem, coordenação ou na marcha;
  • Alterações na visão (uni ou bilateral); dor de cabeça súbita e intensa;
  • Cefaleia súbita e intensa sem causa conhecida.
    Além disso, é importante ressaltar que a identificação do início dos sintomas é relevante para a conduta a ser escolhida ao chegar a emergência, uma vez que há possibilidade de realizar trombólise até quatro horas e meia para os quadros de AVE isquêmico. Vale lembrar, também, que sempre que dois ou mais desses sinais e sintomas forem identificados, deve-se entrar em contato imediato com o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU 192) ou com o Corpo de Bombeiros (193).


B- Exame Físico

    A escala de Cincinnati foi criada como forma de avaliação simplificada para AVE, principalmente, no contexto pré-hospitalar, no qual profissionais de saúde da Atenção básica, do ambulatório, do SAMU, da UPA, e até mesmo leigos, possam ter um método rápido para iniciar o protocolo. Três itens são avaliados: assimetria facial, força nos braços e linguagem.
    O primeiro achado físico refere-se ao desvio da rima bucal, ao pedir para que a pessoa sorria, um dos lados move-se menos ou não se move, desviando a rima para o lado oposto.


https://www.maisquecuidar.com/sintomas-avc-causas-tratamentos
    


    O segundo atribui-se a queda de um dos membros superiores quando se pede para que o paciente sentado, com os olhos fechados, levante os braços à mesma altura e mantenha-los estendidos na horizontal, com as palmas das mãos para cima, por 10 segundos. Dessa forma, é possível observar, comparativamente, um dos membros não se move ou cai, em comparação ao outro.



http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_rotinas_para_atencao_avc.pdf
    
     Por fim, o terceiro, é a avaliação da fala, na qual se observa uma mistura das palavras, uso de palavras inarticuladas ou erradas ou é incapaz de falar uma simples frase como “O Brasil é o país do futebol”.
    Diante dessa análise, cabe ressaltar que na presença de uma das ocorrências anormais, deve-se suspeitar de AVE (72% de probabilidade de ser um AVE ); na presença dos 3 achados, a probabilidade é superior a 85%.


C- Sinais Vitais e Conduta

    Após Realizar avaliação primária e secundária, caso não haja suspeita de trauma cervical, deve-se manter em decúbito elevado para descompressão das jugulares e, com isso, melhorar o retorno venoso. Concomitantemente, deve-se manter a permeabilidade das vias aéreas realizar intubação traqueal se vítima comatosa (Glasgow 8) ou necessidade de proteção de vias aéreas. Dessa forma, indica-se administrar O2 sob máscara para manter saturação O2 ≥ 94%, e caso se faça necessário, realizar ventilação assistida.
    Além disso, deve-se instalar acesso venoso e manter monitorização cardíaca e de oximetria continuamente, associado à avaliação da glicemia e, consequentemente, ao tratamento imediato de hipoglicemia. Não obstante, deve-se evitar hiperglicemia (> 200 mg/dL). Ademais, tratar hipertermia, se necessário.
    Em sequência, deve-se realizar avaliação neurológica: escala de AVE de Cincinnati, escala de coma de Glasgow e exame neurológico e, com isso, detectar sinais de AVE. Cabe ressaltar que em caso de convulsões, se disponível, administra-se Fenitoína 15 mg/kg. Além do mais, é importante lembrar que na fase aguda do AVE, deve-se ter cuidado com o uso de medicação para redução da pressão arterial, pois os anti- hipertensivos podem levar à diminuição da perfusão cerebral e agravar o quadro neurológico. A redução da PA é indicada ser realizada dentro do ambiente hospitalar, uma vez que deve ser gradativa e cuidadosa, portanto, não tentar reduzir a PA no ambiente pré-hospitalar.
    Diante disso, um passo essencial também é determinar precisamente o horário de início dos sintomas (ou o horário em que o paciente foi visto normal pela última vez) e comunicar ao médico do hospital para um tratamento mais eficaz. Além de tudo, é essencial transportar rapidamente contatar de imediato o SAMU - após estabilizar o paciente, para hospital terciário adequado, uma vez que capaz de fornecer cuidados para AVE agudo e com tomografia. Dessa maneira, entende-se que o tempo é fundamental para evitar maior dano neurológico, logo, deve-se considerar que todo paciente é que teve um AVE isquêmico é possível candidato à trombólise em até 4 horas e meia após o início dos sintomas. Com isso, deve-se lembra ao solicitar para a
    Regulação Médica informar previamente o hospital de destino sobre a chegada de um possível caso de AVE.


Conclusão

    Mediante a importância das possíveis sequelas, debilitações e até mesmo os altos riscos de mortalidade relacionados ao AVE, tanto isquêmico quanto hemorrágico, é de suma importância trazer à população e aos agentes de saúde, quais são os principais eventos e manifestações clínicas de um paciente que sofre desse mal, como proceder e a quem solicitar para que o atendimento de emergência seja realizado o mais rápido possível. Tendo acesso a essas informações, é possível tornar situações de emergência como essa, melhores de serem contornadas.


Referencias Bibliográficas

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual de rotinas para atenção ao AVC / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013. 50 p. : il. ISBN 978-85-334-1998-8 

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_rotinas_para_atencao_avc.pdf

Zeefried, Claus Robert. Protocolos de atendimento pré-hospitalar: suporte avançado à vida. Claus Robert Zeefried. -- São Paulo, Secretaria Municipal da Saúde, 2012. 110 p.

BARRADAS DE CASTRO, Joana Angélica et al. Estudo dos principais fatores de risco para acidente vascular encefálico. Study on the risk factors for stroke , Revista Brasileira de Clínica Medica, n. 7:171-173, 2009. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1679- 1010/2009/v7n3/a171-173.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.

SINTOMAS de AVC, causas e tratamentos. In: Sintomas de AVC, causas e tratamentos. [S. l.], 16 ago. 2017. Disponível em: https://www.maisquecuidar.com/sintomas- avc-causas-tratamentos. Acesso em: 8 nov. 2019.

Acidentes ofidicos


ACIDENTE OFÍDICOS
Rayane Meirelles, Diogo Pinheiro

INTRODUÇÃO

O acidente por animais peçonhentos possui relevância no Brasil devido ao seu grande número de casos registrados. Contudo, esse número é subestimado, pois existem falhas no fluxo de informação do SINAN(por exemplo, Cabo Frio- RJ possui um registro de acidente por cascavel, contudo é sabido que a região não possui o animal), assim como falta de conhecimento pela população e a própria área médica. Os acidentes mais comuns em ordem decrescente são: cobras, escorpiões, aranhas e lagartas.

No Brasil, ocorrem cerca de 30 mil acidentes ofídicos por ano. Dentre os quais 85% são por cobras peçonhentas. As de maior importância são as do gênero: Bothrops( jararaca), Crotalus(cascavel), Lachesis(surucucu) e Micrurus(coral verdadeira), sendo as 3 primeiras diferenciadas de acordo com o imagem 1. Neste artigo, abordaremos aspectos sobre acidentes ofídicos com destaque para o quadro clínico e tratamento, pois, como muitas vezes o paciente não consegue descrever o animal,  reconhecer a sintomatologia torna-se fundamental para a conduta terapêutica.


Imagem 1

Fonte: Ferreira, S.F. Estudos Bioquimicos e Toxiconológicos comparativos entre as peçonhas de machos e fêmeas da bothrops mattogrossensis. Dissertação Pós Graduação – UFPB. Paraíba, p.15. 2017.

1) Bothrops (Jararaca)

Se distribui por todo o Brasil, em zonas rurais e periferias de grandes cidades. Habitam em matas e locais onde os roedores se multiplicam com facilidade como depósito de lenha, celeiros e paióis. Hábito predominantemente noturno.

Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.


Quadro Clínico: O veneno possui ação proteolítica, coagulante e hemorrágica. Resulta em dor e edema endurado no local da picada com equimose e sangramento local, podendo complicar com bolhas, necrose, síndrome compartimental e amputação. Os efeitos sistêmicos são gengivorragia, epistaxe, hematêmese e hematúria. As complicações mais comuns são choque e insuficiência renal aguda.

 



Tratamento: Soro antibotrópico ou antibotrópico-laquético conforme tabela 1.



2) Lachesis(surucucu)

Esta espécie é encontrada em matas úmidas no Norte, Nordeste e Sudeste. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do Nordeste. 


Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.


Quadro clínico: O veneno possui ação proteolítica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica.
Assim, o paciente apresenta quadro semelhante ao botrópico acrescentando-se neurotoxicidade com estimulação vagal(hipotensão, tontura, bradicardia, cólica abdominal e diarreia), predominando dor e edema, que podem progredir para todo o membro. Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico nas primeiras horas após o acidente. As manifestações hemorrágicas limitam-se ao local da picada na maioria dos casos.

 


Tratamento: Os acidentes laquéticos são classificados como moderados e graves. Por serem serpentes de grande porte, considera-se que a quantidade de veneno por elas injetada é potencialmente muito grande. A gravidade é avaliada segundo os sinais locais e pela intensidade das manifestações sistêmicas. Soro antibotrópico-laquético 10 a 20 ampolas, conforme tabela 1.



3) Crotalus (Cascavel)

É a serpente cuja toxina apresenta maior índice de letalidade. São encontradas em áreas secas, arenosas e pedregosas, raramente em faixa litorânea e, quando ameaçada, produz ruído sonoro por meio da movimentação de guizo presente na cauda, denunciando sua posição.

 
Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.


Quadro Clínico: A inoculação não gera reação local e a toxina tem ação neurotóxica, coagulante e miotóxica. 
A atividade neurotóxica proveniente da inibição da liberação de acetilcolina provoca paralisia flácida com ptose palpebral, turvação visual, oftalmoplegia e fácies miastenica, muito característica da toxina. Raramente, pode ocorrer insuficiência respiratória. A ação coagulante predispõe o paciente à ocorrência de sangramentos. Já a ação miotóxica resulta em rabdomiólise generalizada, que pode evoluir para insuficiência renal aguda devido à mioglobinúria elevada, principal causa de óbito nesses acidentes.

Tratamento: O tratamento é por meio da infusão endovenosa do soro antibotrópico-crotálico: 5 a 20 ampolas a depender da gravidade, conforme tabela 1. A prevenção da insuficiencia renal aguda é de suma importância para prevenir o óbito. Portanto, é necessária hidratação endovenosa para que o fluxo urinário permaneça em torno de 30-40 ml/hora no adulto e 1-2ml/kg/hora na criança



4) Elapidae (Coral)

São encontradas na região sul e litoral da região sudeste e possuem anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação.




Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.


Quadro Clínico: Possui efeito neurotóxico, principalmente. Há paralisia muscular devido à inibição da liberação de acetilcolina e ao mecanismo de competição da toxina com a acetilcolina nos receptores pós sinápticos das células musculares. Desse modo, as manifestações sistêmicas são similares às do acidente botálico, acrescentando-se mialgia localizada ou generalizada, dificuldade de deglutição e de manutenção da postura ereta. A insuficiência respiratória também é uma evolução possível.

Tratamento: Todos os casos com manifestações clínicas são considerados potencialmente graves e há possibilidade de óbito em curto intervalo de tempo. O tratamento principal é a administração endovenosa de soro antielapídico, conforme tabela 1.
Caso o mecanismo de ação neurotóxica seja de competição da toxina com a acetilcolina pelos receptores pós-sinápticos, pode-se adotar a seguinte conduta para reversão da insuficiência respiratória até que o paciente receba a assistencia ventilatória mecânica necessária:
1 - Cinco doses I.V de 0,5 mg de neostigmina, em intervalos aproximados de trinta minutos.
2 - Cada aplicação de neostigmina deve ser precedida de dose I.V de 0,5 mg de sulfato de atropina, de modo que ocorra aumento de 20 bpm na frequência de pulso. A mesma dose de neostigmina (0,5 mg) deverá ser administrada em intervalos maiores, de acordo com evolução, até recuperação completa.


Tabela 1 : Terapia Soro Antiveneno para os principais acidentes ofídicos do Brasil
Fonte: Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.

Tratamento Geral de acidentes ofídicos
Deve-se adotar as seguintes medidas no primeiro atendimento ao acidente ofídico: 
1) Limpeza local da área de inoculação com água e sabão e soro fisiológico.
2) Elevação passiva de membro acometido.
    Mostrou-se útil para diminuição da dor e prevenção de síndrome de compartimento devido à distribuição do edema. Sempre avaliar perfusão distal durante a manobra.
3) Manutenção da hidratação e diurese.
4) Encaminhar o paciente para administração do soro adequado.
5) Em caso de abscessos, optar por drenagem e coleta de material para cultura e orientação do tratamento. Se não houver essa possibilidade: uso de cloranfenicol endovenoso(500mg/6h/7dias), seguido, se necessário, pelo uso de via oral (1g/24h) por mais quatro ou cinco dias. Dependendo da evolução clínica, poderá ser indicada a associação de clindamicina com aminoglicosídeo.
6) Debridamento de tecidos necrosados
7) Fasciotomia nas Síndromes Compartimentais.
8) Verificação de estado de coagulação para possíveis correções antes de procedimentos como drenagens de abscessos, desbridamentos e fasciotomias.
9) Vacina Antitetanica

Primeiros  Socorros

1) O indivíduo deve permanecer deitado e aquecido.
2) O local de inoculação deve ser limpado APENAS com água
3) Se não estiver vomitando, paciente pode beber água.
4) Levar a cobra para identificação, se possível.

Reações adversas ao soro antiveneno

Podem haver reações de hipersensibilidade ao soro antiveneno, semelhantes à reação anafilática. Para evitar grandes complicações, aconselha-se garantir bom acesso venoso, garantir acessibilidade a equipamentos e medicamentos para tratamento de possíveis choques anafiláticos, além de drogas anti-histaminicas e hidrocortisona.
Há,ainda, a possibilidade de reação de hipersensibilidade tardia, de 5 a 24 dias após o uso do soro antiveneno. Nesse caso, na vigência de febre, artralgia, linfoadenomegalia, urticária e proteinúria, faz-se necessária a utilização de prednisona, na dose de 1 mg/kg dia (máximo de 60 mg) por cinco a sete dias. 


REFERENCIAS:

1.Rafaela Cheung , Claudio Machado. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NA REGIÃO DOS LAGOS, RIO DE JANEIRO, BRASIL. 2017

2.Ana Thereza Arêa Leão de Oliveira. Acidentes com animais peçonhentos no Brasil: revisão de literatura. 2018

3.Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhento. Ministerio da saude. 2001

4.Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde. Acidentes de trabalho por animais peçonhentos entre trabalhadores do campo, floresta e águas, Brasil 2007 a 2017.  2019

5.Pinho, F.M.O., & Pereira, I.D.. (2001). Ofidismo. Revista da Associação Médica Brasileira47(1), 24-29.

6.Ministério da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Guia de Vigilancia Epidemiológica. 7ª edição. Brasília; 2009

7.Azevedo-Marques MM, Cupo P, Hering SE. Acidentes por animais peçonhentos: serpentes peçonhentas. Medicina (Ribeirão Preto). 2003; 36:480-9.




Monday, October 21, 2019


Abordagem geral e manejo da crise hipertensiva
Alice Freitas Macedo e Bruno Takahara


1) INTRODUÇÃO


A Crise Hipertensiva (CH), que corresponde a 0,45% - 0,59% de todos os atendimentos na
emergência hospitalar, ocorre quando a pressão arterial sistólica (PAS) 180mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) 120mmHg. A urgência hipertensiva (UH), diferentemente da emergência, não apresenta lesão em órgão alvo (LOA) e não requer tratamento endovenoso.
a Pseudocrise Hipertensiva (PH) é marcada, principalmente, pela elevação da pressão arterial (PA) devido à interrupção da medicação anti-hipertensiva, problemas psicogênicos (síndrome do pânico, ansiedade) ou dor pós operatória. 




Fonte: Medicina de Emergência Revisão Rápida FMUSP




2) PSEUDOCRISE HIPERTENSIVA


As PH, correspondem a 48% dos casos de crises hipertensivas. Manifestam-se através da elevação acentuada da PA, causada por dor, desconforto ou ansiedade, sem sinais de deterioração de órgão-alvo. Nesses casos, o tratamento sico é sintomático (analgésico, ansiolítico) e/ou o retorno da medicação de longa duração por via oral. 



3) URGÊNCIAS HIPERTENSIVAS

As UH manifestam-se em PAS 180mmHg e/ou PAD 120 mmHg, sem evidência clínica de lesão aguda de órgão alvo ou risco iminente de morte, mas que pode comprometer condições clínicas associadas, como: insuficiência coronariana crônica, insuficiência cardíaca, aneurisma de aorta e pré- eclâmpsia. É mais frequente entre pacientes com baixa adesão ao seu tratamento anti-hipertensivo crônico ou à sua dieta com baixo teor de sódio.
Qualquer evidência de deterioração aguda ou progressiva de órgão alvo na história, exame físico ou na avaliação laboratorial distingue a EH de uma UH. Vale ressaltar que a sobrevida de até cinco anos é significantemente maior em indivíduos com UH do que com EH. 


3.1 ANAMNESE, EXAME FÍSICO E EXAMES COMPLEMENTARES NA UH

Na UH, o histórico de Hipertensão Arterial (HA) é de relevante importância, pois fornece o nível presórico habitual, o controle prévio, a medicação utilizada, o grau de adesão e a história pregressa de comprometimento de órgãos-alvo. Dois exames de rotina devem ser realizados: fundo de olho e eletrocardiograma. O primeiro para avaliar as alterações na papila e na retina, pois as hemorragias e os exsudatos algodonosos de retina e o edema de papila são facilmente visíveis pelo oftalmoscópio. O segundo informa a existência de doenças cardiovasculares pregressas. Além disso, deve-se solicitar exames gerais, como: hemograma, eletrólitos, função renal, glicemia, coagulograma, exame de urina e radiografia de tórax para descartar a possibilidade LOA. 



3.2 TRATAMENTO NA URGÊNCIA 


O tratamento na UH baseia-se na redução da PA em um período de horas a dias. Recomenda-se atingir o nível pressórico de PA < 140/90 mmHg ou um nível 25-30% menor do que a PA basal. Em longo prazo, a PA pode ser reduzida para níveis <140 mmhg.="" span="">
A administração de fármacos anti-hipertensivos por via endovenosa ou sublingual não são indicados nos casos de UH. Podem ser usados a clonidina oral ou o captopril oral, no entanto, não devem ser mantidos a longo prazo. A nifedipina sublingual está contraindicada e não deve ser utilizada. Deve ser retomada a terapia anti-hipertensiva (em pacientes o aderentes) e o início da terapia anti-hipertensiva (em pacientes não tratados) ou a adição de outro anti-hipertensivo.
Pacientes com alto risco de eventos cardiovasculares agudos (diabetes de longa data, doença coronariana conhecida ou AVE prévio) devem ser admitidos para tratamento hospitalar. 


4) EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS

As emergências hipertensivas (EH), correspondentes a 25% das crises hipertensivas, manifestam- se em PAS 180mmHg e/ou PAD 120mmHg e quando evidente lesão aguda em órgãos-alvo (cérebro, rim, olho, coração e sistema arterial periférico) ou risco iminente de morte. Podem se apresentar clinicamente de várias formas, dentre elas: encefalopatia hipertensiva, retinopatia, hemorragia intracraniana, dissecção aórtica aguda, AVE isquêmico, edema agudo de pulmão, glomerulonefrite aguda, eclâmpsia e crises adrenérgicas (ex: feocromocitona e rebote após suspensão de clonidina).
Vale destacar que, em normotensos, a PA média (PAM) pode variar entre 50mmHg e 130mmHg, sem que haja alteração significativa de fluxo sanguíneo. Já em pacientes previamente hipertensos um deslocamento para direita da curva de fluxo versus pressão (autorregulação), de forma que, mesmo com PAM muito elevada, ainda integridade tecidual. Assim, em emergências hipertensivas deve haver a redução da PAM, por meio de anti-hipertensivos parenterais, de forma gradual pois a queda brusca na pressão arterial pode provocar isquemia cerebral em pacientes hipertensos crônicos. Como exceções, há a dissecção aórtica, eclâmpsia e feocromocitoma, que requerem uma redução rápida da PAS, geralmente a <140mmhg hora.="" na="" primeira="" span=""> 



Fonte: RevistaBrasileiradeHipertensão.Volume21.Número3.2014


4.1) ANAMNESE, EXAME FÍSICO E EXAMES COMPLEMENTARES NA EH

A anamnese e o exame físico devem ser voltados para a investigação dos sintomas atuais, história da HAS prévia, avaliação da PA e identificação das lesões em órgãos-alvo ou possíveis causas da EH. Destaca-se a avaliação dos sintomas neurológicos (ex: rebaixamento da consciência e distúrbios visuais), fundoscopia, dor precordial, dispneia e estertores pulmonares, presença de B3/ictus desviado/sopros, possível gravidez e medicação com agentes simpatomiméticos (ex: cocaína e anfetaminas).
Os exames complementares devem ser solicitados para confirmar LOA, logo, deve-se pedir exames gerais (hemograma, eletrólitos, função renal, glicemia, coagulograma, exame de urina e radiografia de tórax)

4.2) TRATAMENTO NA EMERGÊNCIA

Em linhas gerais, o tratamento das EH visa reduzir a PA em 25% na primeira hora e alcançar níveis de PA <140 24-48h.="" em="" mmhg="" span="">
O anti-hipertensivo parenteral mais utilizado é o Nitroprussiato de Sódio, potente vasodilatador arterial e venoso e de ação imediata. A dose inicial de 0,3-0,5 mcg/kg/min até o máximo de 5-10 mcg/kg/min. É evitado em Síndromes Coronarianas Agudas (SCA) e apresenta, como efeito adverso, a intoxicação por cianeto (convulsões, arreflexia, midríase).
Já a Nitroglicerina, com ação predominantemente venodilatadora, é a escolha para SCA, na dose inicial de 5-10mcg/min até o máximo de 150-200 mcg/min. Os efeitos adversos são taquifilaxia, cefaléia, náuseas e vômitos.
O uso de Beta-bloqueadores (como Metoprolol, Esmolol e Labetalol) é preconizado em SCA, dissecção aórtica e emergências neurológicas. A Hidralazina (vasodilatador arterial) tem maior utilidade na eclâmpsia, na dose de 10-20 mg IV. Por fim, a Furosemida (diurético de alça), na dose de 20-60mg, é preconizada no Edema Agudo de Pulmão. Os efeitos adversos são hipopotassemia, taquicardia e cefaléia. 


4.3) ABORDAGEM ESPECÍFICA DE ALGUMAS APRESENTAÇÕES DA EH 


EDEMA AGUDO DE PULMÃO
ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA 
DISSECÇÃO AÓRTICA
ECLÂMPSIA
SCA
CLÍNICA
Dispnéia, estertor pulmonar
Letargia, cefaléia fronto-occipital, alteração da consciência, distúrbio visual.

Dor retroesternal, diferença de PA > 20mmHg entre os braços, sopro cardíaco


Pré eclâmpsia: Proteinúria e HAS (>20 semanas de gestação)
Eclâmpsia: evolui com
convulsão
Dor precordial, em aperto, duração> 20min, irradiação, principalmente, para membro superior esquerdo (face medial)
EXAMES 
Ausculta cardíaca e pulmonar + Raio X Tórax
TC ou RNM de crânio 
AngioTC e ecocardiografia
Plaquetometria, Ureia/ Creatinina, Proteinúria, AST/ALT, proteínas plasmáticas, bilirrubina
ECG (10min) e 
Troponina
TRATAMENTO
Furosemida IV e Nitroprussiato de Sódio 
Nitroprussiato de Sódio, Esmolol, Labetalol e Nicardipina
Beta bloqueador (antes) e Nitroprussiato
Hidralazina + Sulfato de magnésio IV
Aspirina, Metoprolol, Nitroglicerina + Reperfusão miocárdica 

5) ALGORITMO DE CONDUÇÃO INICIAL NA UH E EH

 

Fonte: Manual de Hipertens ão Arterial- SOCERJ - 2018 


Referências Bibliográficas:


1)Herlon Saraiva Martins e Irineu Tadeu Velasco: "Medicina de Emergência- Revisão Rápida. FMUSP”
2) Braunwald: “Tratado de Doenças Cardiovasculares”10 Edição
3) Manual de Hipertensão Arterial- SOCERJ 2018
4) "Emerg
ências hipertensivas: epidemiologia, definição e classificação” - rcio Gonçalves Sousa, Oswaldo Passarelli Júnior
5)" Aspectos fisiopatológicos e clínicos das emergências hipertensivas" -Juan Carlos Yugar-Toledo, Luciana Neves Cosenso-Martin, José Fernando Vilela-Marti
6)
Hermógenes Cjaves Netto- “Obstetrícia Básica”